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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Carta de homenagem da filha Tania Rege Jardim ao seu pai Antonio Jardim "in memorian"

Meu amado paizinho, a vida segue e não espera juntar os cacos então á realidade demonstra que não foi um sonho ruim ou maldito pesadelo, aquela tragédia toda foi é real, seguir depois de algo assim não tem palavras, difícil ainda ir de encontro aos teus pertences e aqui diante da tua velha mala de madeira as lágrimas percorrem minha face ao tocar seus objetos e rever todas as cartinhas, bilhetes e lembranças escolares, que o senhor recebia dos filhos e sempre guardava. É uma dor reler cada escrito, quantas lhe escrevia em todas dizia o quanto te amava e lhe pedia para ser forte cuidar mais de ti porque te amávamos demais, pude te dizer as palavras mais belas e sei também que não foi fácil lutamos juntos e te ajudar a ser livre do teu único defeito sim, porque nenhum ser humano é perfeito é fácil julgar e apontar difícil é assumir as más qualidades para nós você foi o melhor pai que um filho pudesse ter o avô mais companheiro que se pode ver o homem mais humilde que podemos conhecer ótimo irmão bom companheiro para nossa mãe, tio preocupado, principalmente com sobrinhos que já haviam perdido o pai, amigo engraçado e pronto a ajudar, sogro e cunhado prestativo. Quem via não imaginava o poder do seu suor, mesmo sem dá valor a bens materiais adquiriu um patrimônio a base da honestidade, foice e dos braços. Por tudo isso eu necessito te escrever entre tantas que lhe escrevi esta carta não poderei entregar em mãos ou colocar na sua carteira para que encontrasse depois.

Seus ensinamentos eram seus maiores tesouros

Meu coração parece que vai estourar e como a letra de uma música “diz agora o que faço pra viver, se á cada dia é mais difícil esquecer tudo isso faz doer demais eu queria só voltar atrás ficar contigo.” É triste acreditar que te perdemos, essa dor aumenta á cada anoitecer e amanhecer. Porém ao recordar aqueles momentos de sua despedida, podemos ter a certeza do grande ser humano que você sempre foi e nossos corações em pedaços aos poucos se acalentavam por receber tantas pessoas amigos, conhecidos e desconhecidos, na dor e na tristeza muitos se fizeram presente. Ali estava á realidade de suas palavras e conselhos, quando nos ensinava que os maiores tesouros da vida de um homem era amizade, bom caráter e estudo crescemos ouvindo suas historias de luta para estudar, juntamente com tio José Medrado, mesmo de família humilde conseguiram estudar no Rio de Janeiro quando naquele tempo prevalecia o analfabetismo. Tua humildade te fez um homem de bem, enquanto solidariedade está em extinção temos presenciado em quantidade nestes momentos difíceis de nossas vidas. Sei que alguns não percebem o quanto é maravilhoso receber um abraço aperto de mão, ombro amigo uma presença, até mesmo um olhar ou alguns minutos de atenção, receber apoio e conforto faz aliviar nossa imensa dor fiquei pensando o quanto deve ser triste uma despedida sem ninguém, entendo que alguns dizem não gostar de ir velório quem gosta? Mas de vez em quando e bom colocar-se no lugar do outro e perguntar a si mesmo e se fosse comigo? Algumas pessoas agem como se fosse superior as coisas do mundo, só tem noção de uma dor quando ela é pessoal, diante desses fatos que se descobrem ou se conhecem as verdadeiras pessoas, fazemos descobertas incríveis, ficamos surpresos com alguns, então percebemos o que vale a pena preservar nesta vida. E nesse momento necessitamos seguir em frente e como continuar? Á essa altura já percebemos que não importa o que façamos a vida volta a movimentar e mesmo nos sentindo perdidos, desprovido de proteção lentamente continuamos nosso caminho não mais com os mesmos roteiros planos e sonhos tudo mudou, cada um segue ao seu modo tentando em si mesmo apoiar-se, vejo os olhares perdidos e na busca de ser forte, temos o mesmo refúgios seu lugar preferido o qual cuidou durante toda sua vida a fazenda seu reino encantado, onde nos mínimos detalhes percebemos seu toque, a casa sempre movimentada como adorava receber a família e amigos, um final de semana sem planejar virava uma festa, como aquele dia dos pais em 2013, reclamou quando energia chegou por lá dizia que ninguém mais dava atenção ao violão tocado por Denivaldo e o cunhado Raimundo. Seu chapéu é a lembrança viva ao nosso lado, então fechamos os olhos vem á imagem de suas mãos grossas cheias de calos, com aquele embornal de borracha sempre pendurado em seus ombros á caminho do bananal e ao cair da tarde basta um grito de “vai-vai”, que as vacas leiteiras com suas crias seguem por si só ao curral como a magia da natureza a noite chega silenciosa, uma brisa leve, recebe os sons dos pássaros que parecem ser nossos sentimentos. Nossa amada mãe deprimida, cabelos brancos, alma ferida sempre com lágrimas nos olhos, aparência frágil revela que não tem mais a mesma força de antes, o peito sente amargura da ausência do seu eterno amor. Como uma mãe ela quer ficar de pé e ser forte mesmo sem saber como e para onde ir...

Novas sementes no Jardim

Dificuldades mesmo é tentar explicar as crianças, todas eram bem próximas porque recebiam atenção merecida, surge cada pergunta que nem sei como responder. O sobrinho neto João Emanuel, me disse que todos os dias faz bilhetes e desenhos pro vôzinho e pergunta á Deus e ele não responde. Luiz Davi, tão menino e uma compreensão adulta, Mikael, parece querer demonstrar que já sentiu a mesma dor. Ágda relembra o desfile no natal quando ele disse que o sonho dela era o futuro da família. As netas Alice e Maria Clara reclamam da saudade e perguntam: E agora quem vai andar de cavalo com a gente? Kamyla completa a frase lamentando: “ele guardava as moedas para mim”. Lara Rege, convida a todas e diz: vamos cantar as músicas que o vovô gostava? E aos soluços depois de sua missa de sétimo dia se ouve de Maria Eduarda: “nunca mais quero sorrir.” Meu filho único neto adolescente de malas prontas por está indo estudar fora, foi te pedir benção e dizer tchau não imaginou que em menos de um mês te perderia e aquele até breve era um adeus. Os olhos brilhavam quando ele dizia: “João Vytor, quando você completar dezoitos anos deve se tornar um homem responsável para receber o que é seu o qual cuidei com amor para garantir melhor seu futuro e seus estudos...” O que falar do nosso bebê Arthur Demétryus, conviveu com vovô apenas onze meses e já veio trazendo felicidades quando recebeu o segundo nome foi em homenagem ao bisavô, aquele sorriso de orgulho era visível á cada olhar para o neto. Jamais o deixaremos te esquecer paizinho, suas histórias e lembranças ficarão presentes em nossas vidas.
Quanto meus queridos irmãos, graças a Deus eles tem ao lado companheiras fortes que eram admiradas pelo sogro, que os ajudam ao superar as dificuldades, observo o sofrer de cada um como eu gostaria de sofrer sozinha por eles, mas á cada problema que surge, sinto cada vez mais orgulho deles, mesmo sendo a única filha tenho quatro homens lutadores pela vida que você meu pai, soube criar educar sem agressões, suas surras eram de palavras, por fim meu amor por eles só aumenta e quando penso que não vou conseguir, busco forças para superar e acredito em Deus que dispomos de pés que conhecem os caminhos á serem trilhados mesmo com espinhos e pedras, jamais desviaremos do que nos ensinou, temos orgulho do teu nome em todos os sentidos porque o que é um Jardineiro? É quem cuida, cultiva a alma do solo, guardião da raiz e semente espírito bom que chega com a primavera e fertiliza o JARDIM, que é o local de alegria vida e beleza de todos os tipos de flores que precisam de energias para as reposições e brilhos, portanto JARDIM e JARDINEIRO, tanto um quanto outro tem a necessidade de reabastecer e mudar, porque sempre existirá a vida e as substituições dessas energias. Pelo poder divino o jardim nasce cresce, brilha e por vezes se esgota deixando sementes para renovação. É assim você se fez meu pai, seja abençoada tua história, as mais novas sementes já estão germinando nesse jardim, porque está á caminho o oitavo e o nono netinho ou netinha. Deus nos abençoe!

Sinto saudades
Meu amado pai como tenho saudades de ti, não quero mais me lamentar, questionar os desígnios de Deus e da vida. Mais está difícil e hoje aos quatro meses sem você eu precisava te escrever mais esta carta, Adeus paizinho te oferecemos nossas orações descanse em paz! Quero me despedir em nome de todos como o senhor nos ensinou: ”Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo nossa benção pai?”
“Eu porem cantarei a tua força; pela manhã louvarei com alegria a tua misericórdia, pois tu me tens sido alto refúgio e proteção no dia da minha angustia”
(Salmos 59:160)


Sua filha Tânia Rege Carneiro Jardim.

Um comentário :

katia macedo disse...

li sua carta achei linda que deus continue abençoado vc e sua familia pois ele é nosso socorro na hora da angustia.