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domingo, 12 de maio de 2013

Artigo de opinião: NA FALTA DE ORGANIZAÇÃO, O PROFESSOR QUE DÊ SEU SALTO!


Por Rhoselly Xavier

Para a Educação no estado do Tocantins, 2013 tem sido um ano de muitos atropelos, que vão desde a falta de professores nas salas de aula da grande maioria das escolas públicas do Estado durante o primeiro mês do ano letivo, fato injustificável, à indisponibilidade de diárias para custear as despesas com transporte, alimentação e hospedagem dos técnicos, diretores de escolas, coordenadores pedagógicos e professores (de Português, Matemática e Ciências), que tendo que participar da capacitação referente ao SALTO - Sistema de Avaliação do Tocantins - e que residem e trabalham em localidades distintas das regionais de ensino (locais aonde essas capacitações vêm ocorrendo), têm que custear essas despesas sem ao menos previsão para reembolso, o que é uma arbitrariedade e desrespeito enorme ao trabalhador.
Esses problemas contrastam imensuravelmente com as belíssimas propagandas e notícias que circulam nos meios de comunicação do Estado. O fato é que nos bastidores da educação, há, sim, irregularidades ocorrendo e muitas ações promovidas pela SEDUC, especialmente as capacitações, têm sido pautadas na falta de planejamento responsável, informação antecipada e segura e, ainda, na falta de seriedade e respeito aos profissionais que compõem a rede pública de ensino dos quais se cobra empenho em aproveitar as “oportunidades” de ampliar seus conhecimentos, dedicação nos desdobramentos enquanto se luta pela melhoria no desempenho dos alunos em todas as avaliações internas e externas e, principalmente, cobra-se que, diante de certos absurdos, se tenha “compreensão e paciência, pois já estão buscando resolver a situação, só que ‘eles’ dependem de assinaturas, autorizações dos seus superiores” – o que, irônica e injustificavelmente, se ouve ao reclamar por telefone.
De acordo com as leis trabalhistas, o servidor que pernoitar em outra localidade em função do seu trabalho deve receber uma diária, para cada período de 24 horas, a fim de custear as despesas e o servidor que, embora não pernoite, mas permaneça exercendo suas funções profissionais por um período igual ou superior a seis horas, tem direito a meio diária para subsidiar alimentação e transporte.
Cabe a reflexão: é correto que o trabalhador se prive da comodidade de poder almoçar e repousar em sua casa durante o seu breve período de descanso para participar de uma capacitação em outro município usando seu próprio dinheiro para viajar e se alimentar sem ao menos ser informado sobre quando, precisamente, será reembolsado?  Foi o que aconteceu com os servidores da Educação de Miranorte, e das outras cidades que compõem a Regional de Miracema do Tocantins durante a capacitação do SALTO ocorrida nos dias 7, 8 e 9 de maio de 2013 em Miracema. O curioso é que essa capacitação ocorreu em outras regionais do Estado nas mesmas condições. Então, talvez até fosse compreensível que a SEDUC tivesse falhado quando a primeira etapa dessa formação aconteceu, isso se o erro não tivesse se repetido nas etapas subsequentes. Falha no planejamento inicial ou descaso com os trabalhadores mesmo?
Como se fossem obrigados a reservar parte dos seus salários para atender às eventuais exigências/ necessidades do correspondente órgão empregador, professores, técnicos, coordenadores e diretores tiveram que dispor de suas economias pessoais para custear as despesas com viagem e alimentação a fim de participarem dessa capacitação sem sequer serem avisados disso com antecedência para que se organizassem financeiramente.
 É possível que se esteja repetindo tanto que “o salário do professor tocantinense é um dos melhores salários pagos a esses profissionais no país” - como se em algum lugar do Brasil professor fosse profissional devidamente valorizado - que se fantasie a realidade desses trabalhadores ignorando o fato de que esses profissionais costumam e necessitam planejar seus gastos cuidadosamente, pois seria uma tola ilusão acreditar que os proprietários dos mercados, farmácias e de outros estabelecimentos locais, por mera camaradagem, baterão à porta de seus clientes lhes fornecendo produtos sem que estes tenham dinheiro naquele momento ou, sequer, previsão certa para efetuar o pagamento correspondente. Mas professor tem que ser diferente, tem que estar sempre à disposição e encarar as adversidades de forma compreensiva e cordial.
E se alguém cogitar a possibilidade de terem faltado recursos para a realização dessas capacitações? Bem, falta de verba não deve ser a justificativa para tamanha arbitrariedade, pois, de acordo com o MEC, o total de recursos destinados à Educação do Governo do Estado para o exercício de 2013 é de R$ 760.411.526,87 e de acordo, ainda, com o Portal da Transparência do Tocantins, de janeiro a maio de 2013 o Estado recebeu R$ 212.147.369,28 do FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação). Dessa forma, por que compreender que a SEDUC não tenha disponibilizado subsídio financeiro aos trabalhadores que tiveram que se deslocar de suas respectivas localidades para passar por uma capacitação promovida por ela? Por que compreender o fato de que nem mesmo os servidores da SEDUC saibam informar ao certo quando esses trabalhadores serão ressarcidos pelos gastos que tiveram com a capacitação do SALTO? Até um relógio precisa de bateria para exercer seu trabalho de forma eficiente, mas o professor “que dê seu salto!”, afinal, se ele não faz o que se espera dele, há quem diga que é por má vontade, incompetência, miserabilidade.
O que comumente não acontece é de vermos servidores de outras pastas tendo que se submeter a esse tipo de situação no Estado: viajar a trabalho com dinheiro do próprio bolso, mas “o professor deve fazer a parte que lhe compete”, pois é um profissional da Educação e na Educação tudo é possível.
Apesar de alguns dos (tão esperados) esforços imputados no intuito de melhorar a qualidade de ensino do Tocantins e de, simultaneamente, promover a valorização profissional, a situação apresentada funciona como uma pequena mostra de que inúmeros são os equívocos que ainda ocorrem na Educação tocantinense, seja por falta de competência no planejamento pontual e orçamentário de várias atividades, seja pelo comodismo e descaso conferidos a problemas que se repetem, ano após ano, gerando insatisfação e indignação de muitos.
 É necessário que se resolva os problemas de forma diplomática, mas muitas vezes, infelizmente, os diálogos só acontecem de maneira funcional quando se deixa de varrer o lixo para baixo do tapete e a sociedade é inteirada das irregularidades que estão acontecendo para que as cobranças por esclarecimentos e soluções para os problemas sejam finalmente e pontualmente atendidas.

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